Itan – Oxalá cria o Àiyé (Mundo)

No alvorecer da existência, quando nem o sol havia ainda acariciado o horizonte, nem as estrelas cintilavam no imenso céu noturno, o nosso planeta se apresentava como um imenso pântano. Esta era uma era dominada por uma massa disforme e inóspita, sob a vigília de águas profundas e enigmáticas. Acima deste reino aquático, pairava o Òrum, o sagrado lar de Olódùmarè, o Criador supremo, e dos Oráis, divindades majestosas que supervisionavam diferentes facetas do ser.

Entre esses Oráis, Orixalá, ou Oxalá, emergia como uma figura de destaque. Este grandioso Orái, Senhor da criação e da paz, foi escolhido por Olódùmarè para transformar o caos inicial em um habitat estável, propício à vida. Para essa grandiosa tarefa, Olódùmarè entregou a Orixalá três itens simbólicos: uma concha marinha cheia de terra, uma pomba e uma galinha de cinco dedos. Armado com estes itens, Orixalá iniciou sua descida ao mundo aquático, utilizando teias de aranha que serviam como pontes celestiais.

Ao atingir seu destino, Orixalá espalhou a terra da concha sobre as águas, e liberou a pomba e a galinha, que prontamente começaram a espalhar a terra, criando assim o primeiro pedaço de terra firme. Este ato de criação foi observado atentamente por Olódùmarè, que, não completamente satisfeito, enviou um camaleão para inspecionar o progresso. Após duas visitas, o camaleão confirmou que a terra estava agora firme e pronta para abrigar vida.

O local onde a terra se formou foi batizado de Ifé, um nome que ressoa com significados de expansão e potencialidade. Com a missão de enriquecer este novo mundo, Olódùmarè enviou Orixalá de volta à Terra, dessa vez com o encargo de plantar árvores, trazer alimento e riquezas para sustentar a vida emergente. Com a chegada das chuvas, a vida começou a brotar em Ifé, marcando o início de tudo o que conhecemos.

Ifé transformou-se, assim, no berço da criação, onde, sob a direção de Olódùmarè e o diligente trabalho de Orixalá, o mundo e tudo que nele habita foram moldados. Este evento estabeleceu o equilíbrio entre os elementos e deu início à saga da humanidade e da natureza. É uma lembrança eterna do poder da criação, da importância da harmonia e do papel essencial que cada entidade desempenha no tecido da existência. E assim, durante uma semana mágica de criação sob a benção dos Oráis e a vontade divina de Olódùmarè, tudo começou em Ifé, narrando a eterna história do nosso universo e da intricada dança da vida.