A Comida do Candomblé: A Conexão Entre o Sagrado e o Profano

A alimentação, tanto na esfera litúrgica quanto na pública, desempenha um papel crucial para os visitantes durante as festividades do Canomblé. É essencial compreender a cultura, a liturgia e a mudança na alimentação ao longo do tempo dentro do contexto do Canomblé, desde o passado até os dias atuais.
Dentro do Candomblé, a alimentação permeia todas as liturgias e rituais, desde o início até o seu desfecho. A comida é parte integral, desde a realização dos rituais iniciais até o momento de alimentar Exu e a comunidade religiosa. Essa presença contínua ressalta a importância fundamental que a alimentação possui, alimentando o sagrado, a ancestralidade e a própria comunidade religiosa, incluindo visitantes.
Cada alimento utilizado no Candomblé possui uma simbologia única, sendo uma forma de codificar mensagens para o sagrado, expressando desejos e necessidades. Por exemplo, grãos representam multiplicidade e prosperidade, enquanto o Dendê simboliza apaziguamento e doçura, buscando doçura na vida. Assim, cada alimento é sagrado e carrega significados profundos.
Ao falarmos da alimentação relacionada aos Orixás, não podemos deixar de mencionar o simbolismo do Bori, um banquete farto oferecido aos membros da comunidade religiosa para fortificar e apaziguar o seu Ori, buscando positividade e bênçãos. A cabeça, representando uma parte primordial na existência, também é alimentada e cuidada, juntamente com toda a comunidade religiosa.
No entanto, observa-se uma mudança significativa na percepção e aceitação da comida ligada aos Orixás e à cultura do Candomblé. Muitos não se alimentam desses pratos por falta de familiaridade ou por não se identificarem com a cultura, preferindo pratos diferentes, alheios à tradição do Candomblé.
Essa mudança gera críticas, visto que a comida ritualística, sagrada e preparada com devoção para os Orixás está sendo substituída por pratos luxuosos e distantes da tradição religiosa. Essa transição afasta a comunidade do seu vínculo com a cultura do Candomblé, gerando um distanciamento entre a alimentação oferecida aos Orixás e a destinada ao consumo cotidiano.
Os desafios atuais incluem a dificuldade de pessoas fora desse contexto cultural se familiarizarem com a comida ligada ao Candomblé, pois a falta de preparo desses pratos nos terreiros contribui para essa lacuna cultural.
Para preservar a tradição e resgatar a essência da alimentação sagrada do Candomblé, alguns terreiros oferecem uma opção mista durante festividades, incluindo pratos comuns para facilitar o consumo para aqueles menos acostumados à culinária do Candomblé.
É essencial compreender e preservar a tradição alimentar do Candomblé, garantindo que a comida ritualística seja não só ofertada aos Orixás, mas também consumida pela comunidade religiosa, mantendo viva a conexão com a cultura afro-brasileira.
Compreender a importância da alimentação no Candomblé é um convite à reflexão sobre a preservação da tradição, respeitando sua simbologia e resgatando-a para as gerações futuras. É um convite para manter viva essa essência, garantindo que o Candomblé seja celebrado e vivenciado em sua plenitude.