A (Re)Africanização Moderna do Candomblé
A africanização ou reafricanização do candomblé é um fenômeno que remonta aos primórdios da história dessa religião. Muitos consideram esse movimento como algo positivo para o candomblé em si. No entanto, é crucial analisar se essa tendência é benéfica, positiva e legítima.
O termo “africanização” implica uma busca pela origem africana do culto aos Orixás, Voduns ou Inquices, independentemente da nação de candomblé. Observa-se sempre um esforço em reafirmar essa origem africana do culto. No entanto, a avaliação da africanização não é simplesmente uma questão de bom ou ruim, pois depende do contexto e da motivação por trás desse movimento.
O candomblé, como parte integrante da cultura afro-brasileira, tem suas raízes na África, embora tenha passado por adaptações e evoluções no Brasil ao longo do tempo. Reconhecer e compreender essa africanidade é essencial para uma compreensão mais profunda da própria cultura afro-brasileira.
No entanto, há uma armadilha na busca desenfreada pela africanização. Quando essa busca se concentra apenas na legitimação religiosa, ignorando a diversidade e riqueza das culturas afro-brasileiras, ocorre uma “africanização gourmetizada”. Nesse cenário, o valor da cultura religiosa é medido pela sua africanidade, o que pode distorcer sua essência e desconsiderar outras influências culturais importantes na formação do candomblé.
Outro ponto de preocupação é a tendência de enfatizar apenas uma vertente da cultura africana, como a iorubá ou o fá, em detrimento de outras influências étnicas africanas que contribuíram para a formação do candomblé brasileiro. Essa abordagem unilateral da africanização pode levar a uma compreensão limitada e distorcida da história e identidade do candomblé.
Além disso, a africanização excessiva pode resultar na perda da brasilidade do candomblé, desconsiderando sua identidade como uma manifestação única da cultura afro-brasileira. É essencial reconhecer a riqueza da multiculturalidade do candomblé e evitar uma visão simplista e unilateral da sua africanidade.
Em suma, a busca pela africanização no candomblé é um processo complexo que requer sensibilidade para equilibrar a preservação da identidade cultural com a compreensão da diversidade e influências que moldaram essa religião ao longo dos séculos. É fundamental celebrar a africanidade do candomblé sem perder de vista sua brasilidade e a complexidade de sua história e formação cultural.